domingo, 30 de janeiro de 2011

Areias Alvas, tradição em meliponicultura


Nessas minhas andanças pelo litoral norte de Tibau/Grossos/Areia Branca fui mais uma vez visitar uma comunidade que sempre encontro pequenos, mas antigos meliponicultores.


Ainda temos nessa região uma cultura muito forte que é a criação rústica e sem compromisso das abelhas sem ferrão, em quase toda casa tem um pequeno cortiço de Jandaíras.

Nosso destino é a comunidade de "Areias Alvas", pertencente ao Município de Grossos-RN, essa comunidade tem esse nome pela singularidade do terreno, extremamente claro e salino.

Uma curiosidade da região é a existência na comunidade do 2º maior cajueiro do mundo, como mostra a foto abaixo a planta tem proporções fora do padrão.
(fonte: internet)

Nessa missão sou acompanhado, melhor dizendo, sou escoltado de forma implacável por essas duas figurinhas aí abaixo. A primeira, com seu sorriso fácil e faltando alguma coisa, é a Maria Eduarda, minha filha que passa férias comigo aqui no RN. O segundo, de cara marrenta e perguntador, é o Alfredo, sobrinho da minha esposa, na verdade é mais meu sobrinho do que dela, rsss.

Já no caminho a Maria Eduarda vai me chamando atenção pela bela florada da região, mesmo não sendo uma região puramente de caatinga, tem em sua configuração um pouco de tudo, principalmente carambolas nativas que são muito visitadas pelas abelhas.

A florada do momento é o velame, essa planta tem uma floração intensa. Mesmo distante podemos observar o mato quase que dominado pela brancura desse belo arbusto. Pela manhã é quase impossível disputar espaço com as apis que constantemente visitam a planta.


A primeira parada é na casa do seu Francisco, na verdade, na casa do seu "Mago" como ele gosta de ser chamado. Sempre que posso venho visitá-lo para acompanhar esses dois cortiços que ele tem há mais de 18 anos, nunca fez um manejo sequer. No máximo retira algum mel durante as épocas de fartura.

Na foto abaixo ele me mostra o peso dos cortiços afirmando que estão com muito mel. Confirmando as minhas desconfianças pergunto ao seu Mago sobre a existência de duas espécies de Jandaíra, sem demora seu Mago me diz que existem duas Jandaíras, uma menor, mais populosa e agressiva, bem como muito produtiva, que ele chama de Jandaíra de litoral. A outra, maior, mais dócil, de menor produtividade do interior.

É imprecionante como a cultura popular pode surpreender a científica, somente agora as suspeitas da existência dessas duas sub-espécies estão em evidências, mas já há muitos anos o sertanejo tem essa certeza quase que absoluta.

Bem, o futuro nos guarda muitas surpresas, em breve veremos se esse "mito" popular se concretiza.

Enquanto tirava a foto dos cortiços do seu Mago, minhas companhias, literalmente, me cutucavam tentando me mostrar algo que, segundo eles, era os mais novos amiguinhos do pedaço.

Na verdade, era apenas uma família de macaquinhos da espécie conhecida como "sagüis" que habitam as proximidades e são alimentados com frutas pelo Seu Mago. Quase que não consigo mais ir embora com esses meninos querendo levar os bichos para casa.

Depois de convencer a dupla que o lugar dos bichos era na casa do seu Mago, fomos em direção a casa de outro pequeno meliponicultor, Seu Raimundo. Mesmo não estando em casa um dos seus sobrinhos me acompanhou e me deixou coletar algumas amostras e tirar fotos do humilde e pequeno meliponário.

Esses cortiços estão abandonados aí faz anos, o pessoal cria as abelhas apenas para extrair o mel durante o inverno mas não desenvolve qualquer tipo de manejo no intuito de ajudar as colônias.

É só venha nós, nada de vosso reino, pobre desses insetos.

O interessante é que o azar de alguns gera a sorte de outros, o fato de não terem cuidados proporciona a morte de muitos enxames pela fome, gerando assim novas casas vazias para outras abelhas, a exemplo nesse mesmo meliponário um enxame de abelhas mosquitos (jatí) se aproveitou do abandono e habitou o antigo cortiço de Jandaíras.


Coletei mais abelhas e segui viagem a caminho do meliponário do Seu Assis, no caminho o Alfredo vai apontando e me dizendo: -Caiu, alí tem abeia!!!! Não me aguentando de rir páro o carro e disparo a máquina para as palmas da dupla nesse lindo pé de amor agarradinho.

Eram tantas abelhas e borboletas que nem deixei os meninos descerem do carro para olharem de perto pois tinha certeza que um deles iria mexer com os insetos e como a grande maioria é apis, já viu né, ia sair gente chorando, rssss.

Ao chegar na casa do Assis vejo o Alfredo observando atentamente esse velho cortiço de Jandaíra.

-Cadê as abeias titio????
- Tão aí dentro, quer vê???
-Quero!!!

Bati na caixa só pra irritar as Jandaíras, não demorou muito pra eu ver o pequeno correndo com as abelhas enrrolando no cabelo dele, rssss... Acho que nunca mais ele vai querer vê as abelhas, maldade minha viu, rsss.

Que nada, passado o susto inicial já estava ele me mostrando outra caixa cobertoa apenas por pequeno telhado. Observem que em todos os meliponários as caixas são as mais simples possíveis. Não é que eles não tenham condições de ter caixas melhores, mas é que o costume foi sempre esse, em manter as abelhas em cortiços muito simples.

A rusticidade é marca registrada nessas comunidades, a própria vedação é feita com barro que não é muito higiênico, mas é bastante eficiente, pois impede a entrada dos forídeos após a coleta do mel.


Partimos viagem em direção a casa de uma amigo e antigo meleiro, sua principal atividade é a fabricação de cercas, por isso ele é conhecido como "Antônio das cercas", no interior é assim, ninguém quase nunca tem só um único nome, geralmente o apelido virá quase o próprio nome.

Nas horas vagas o Antônio é meleiro, sua principal extração é a coleta de mel das africanizadas.

Pense num cabra macho!!! Ele tira o mel dessas abelhas sem nenhuma roupa de proteção, apenas com ajuda de um pequeno fogo e muita coragem. Pergunto pelas ferroadas e ele me diz que não doi.
NÃO DOI!!!! Hora não doi né, só se a pele dele for de sapo, rsss.

Mas também já tirou muita Jandaíra, no passado me confessou abrir uma Imburara e coletar todo mel, deixando somente as capas de crias e campeiras sem nenhuma proteção. Ou seja, cada coleta desse era uma ninho de Jandaíra que se perdia.

Atualmente, o amigo tem feito diferente, informei a ele que era mais vantajoso ele coletar os ninhos manter uma criação, mesmo rústica, em sua casa para assim ter sempre mel disponível. Hoje, no lugar de um meleiro temos mais um meliponicultor.

Abaixo temos um dos seus cortiços pendurados na varanda de sua casa, ainda falta muita coisa a se aprender pois aí essas abelhas são fonte fácil de ataque para largatixas e outros predadores. Mas como é difícil ensinar novos conceitos a alguém que já tem enraizado velhos costumes.


Abaixo está o Antônio da cerca com mais duas Jandaíras ainda no pau da Imburana, estamos combinando em passar essas duas Jandaíras para caixas racionais que em breve irei trazer. Espero que ele possa aprender alguma coisa comigo, pois eu acada dia aprendo mais com essa gente.

att,
Tibau, em 29 de janeiro de 2011.

Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Vamos Participar

Caros amigos,



As abelhas estão morrendo em todo o mundo, colocando em perigo a nossa cadeia alimentar. Os cientistas culpam os agrotóxicos e quatro governos europeus já os proibiram. Se conseguirmos que os EUA e a União Europeia se unam à proibição, outros governos ao redor do mundo poderão seguir o exemplo e salvar da extinção milhares de abelhas. Assine a petição e encaminhe este apelo urgente:
Silenciosamente, bilhões de abelhas estão morrendo, colocando toda a nossa cadeia alimentar em perigo. Abelhas não fazem apenas mel, elas são uma força de trabalho gigante e humilde, polinizando 90% das plantas que produzimos.

Vários estudos científicos mencionam um tipo de agrotóxico que contribui para o extermínio das abelhas. Em quatro países Europeus que baniram estes produtos, a população de abelhas já está se recuperando. Mas empresas químicas poderosas estão fazendo um lobby pesado para continuar vendendo estes venenos. A única maneira de salvar as abelhas é pressionar os EUA e a União Europeia para eles aderirem à proibição destes produto letais - esta ação é fundamental e terá um efeito dominó no resto do mundo.

Não temos tempo a perder - o debate sobre o que fazer está esquentando. Não se trata apenas de salvar as abelhas, mas de uma questão de sobrevivência. Vamos gerar um zumbido global gigante de apelo à UE e aos EUA para proibir estes produtos letais e salvar as nossas abelhas e os nossos alimentos. Assine a petição de emergência agora, envie-a para todo mundo, nós a entregaremos aos governantes responsáveis:

https://secure.avaaz.org/po/save_the_bees/?vl

As abelhas são vitais para a vida na Terra - a cada ano elas polinizam plantas e plantações com um valor estimado em US$40 bilhões, mais de um terço da produção de alimentos em muitos países. Sem ações imediatas para salvar as abelhas, poderíamos acabar sem frutos, legumes, nozes, óleos e algodão.

Nos últimos anos, temos visto um declínio acentuado e preocupante a nível global das populações de abelhas - algumas espécies de abelhas estão extintas e outras chegaram a 4% da população no passado. Cientistas vêm lutando para obter respostas. Alguns estudos afirmam que o declínio pode ser devido a uma combinação de fatores, incluindo doenças, perda de habitat e utilização de produtos químicos tóxicos. Mas um importante estudo independente recente produziu evidências fortes culpando os agrotóxicos neonicotinóides. A França, Itália, Eslovênia, e até a Alemanha, sede do maior produtor do agrotóxico, a Bayer, baniram alguns destes produtos que matam abelhas. Porém, enquanto isto, a Bayer continua a exportar o seu veneno para o mundo inteiro.

Este debate está esquentando a medida que novos estudos confirmam a dimensão do problema. Se conseguirmos que os governantes europeus e dos EUA assumam medidas, outros países seguirão o exemplo. Não vai ser fácil. Um documento vazado mostra que a Agência de Proteção Ambiental dos EUA já sabia sobre os perigos do agrotóxico, mas os ignorou. O documento diz que o produto da Bayer é "altamente tóxico" e representa um "grande risco para os insetos não-alvo (abelhas)".

Temos de fazer ouvir as nossas vozes para combater a influência da Bayer sobre governantes e cientistas, tanto nos EUA quanto na UE, onde eles financiam pesquisas e participam de conselhos de políticas agrícolas. Os reais peritos - apicultores e agricultores - querem que estes agrotóxicos letais sejam proibidos, a não ser que hajam evidências sólidas comprovando que eles são seguros. Vamos apoiá-los agora. Assine a petição abaixo e, em seguida, encaminhe este alerta:

https://secure.avaaz.org/po/save_the_bees/?vl

Não podemos mais deixar a nossa cadeia alimentar delicada nas mãos de pesquisas patrocinadas por empresas químicas e os legisladores que eles pagam. Proibir este agrotóxico é um caminho necessário para um mundo mais seguro tanto para nós quanto para as outras espécies com as quais nos preocupamos e que dependem de nós.

Com esperança,

Alex, Alice, Iain, David e todos da Avaaz

Leia mais:

Itália proibe agrotóxicos neonicotinóides associados à morte de abelhas:
http://www.ecodebate.com.br/2008/09/22/italia-proibe-agrotoxicos-neonicotinoides-associados-a-morte-de-abelhas/

O desaparecimento das abelhas melíferas:
http://www.naturoverda.com.br/site/?p=180

Alemanha proíbe oito pesticidas neonicotinóides em razão da morte maciça de abelhas:
http://www.ecodebate.com.br/2008/08/30/alemanha-proibe-oito-pesticidas-neonicotinoides-em-razao-da-morte-macica-de-abelhas/

Campos silenciosos:
http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/campos_silenciosos_imprimir.html