quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

ABELHAS EM AGRONEGÓCIOS


Marilda Cortopassi-Laurino

Laboratório de Abelhas, Universidade de São Paulo-SP

Rua do Matão, travessa 14, nº321 05508-900 SP

mclaurin@usp.br



As abelhas fazem parte do enorme grupo dos insetos. Estima-se que haja cerca de 25.000 de espécies vivendo em diferentes ambientes.

As abelhas são animais muito antigos na face da Terra, e devem ter evoluído junto com as plantas que produzem flores. Algumas abelhas estão fossilizadas em resinas como o âmbar, que datam de 65-80 milhões de anos.

No início, o papel das abelhas junto ao Homem estava associado apenas à figura do meleiro, que provavelmente colhia e comia só o mel e só recentemente é que teria surgido a utilização da resina coletada pelas abelhas e guardada nos ninhos, em embalsamamentos, como faziam os egípcios (Crane, 1983). Com o passar do tempo, o conhecimento do manejo das abelhas aumentou e o homem percebeu que poderia criar as abelhas em abrigos e locais convenientes, próximas do local onde ele vivia, que facilitaria o seu trabalho. Esses fatos estão documentados em pinturas rupestres européias e em afrescos de diferentes reinados egípcios para Apis mellifera e desde o período pré-hispânico na América Central, pela civilização maia. As abelhas nativas da região, os meliponíneos ou abelhas indígenas sem ferrão é que eram importantes para essa cultura.

A partir do momento que a agricultura começou a fazer parte da vida do homem, ele teve a oportunidade de tomar conhecimento de outro serviço proporcionado pelas abelhas: o da polinização das flores. A polinização nada mais é do que a transferência do pólen, gameta masculino das flores, do estame de uma flor para o estigma de outras flores da mesma espécie de planta, resultando nas sementes e frutos. Outros agentes polinizadores podem ser o vento, a água, outros insetos, morcegos, aves, etc. Um registro dessa atividade, feita pelo homem, datada de ~800 AC, foi feito pelos assírios. Nela, uma figura mitológica tem flores masculinas na mão, e usa-as para transferir o pólen para as flores femininas de uma tamareira, uma das primeiras plantas que se acredita terem sido domesticadas e foi publicada por Buchmann & Naham, 1997. Uma gravura em pedra com o mesmo tema foi exposta no Museu do Louvre, só que com a figura de um homem (nota do autor).

As abelhas são consideradas os polinizadores mais eficientes porque, tendo pêlos ramificados, elas podem reter numerosos grãos de pólen, e para coletar uma carga de pólen ou de néctar, elas têm que visitar dezenas de flores em cada viagem. Essa visita de flor em flor da mesma espécie vegetal é que propicia o transporte do pólen e a polinização cruzada. Calcula-se que 80% dos vegetais de interesse econômico representado pelos frutos, sementes, fibras e outros produtos, dependem quase exclusivamente dos insetos para a polinização (McGregor 1976)

Sabe-se hoje que uma polinização insuficiente provoca formação imperfeita do fruto, reduzido número de sementes e em alguns casos, rapidez no processo de apodrecimento, e todos sabem como a qualidade é importante em termos de mercado. Enfim, uma diminuição no número de insetos polinizadores provoca conseqüências catastróficas na agricultura, mas também na natureza como um todo, que perderá na diversidade e na abundancia dos seus componentes. Sabemos que a quantidade e a diversidade de espécies contribui para definir o “estado de saúde” ou “biodiversidade” de um ambiente, e da sua estabilidade pode-se deduzir o grau de salubridade para o Homem.

Em relação ao modo de vida, as abelhas são predominantemente de vida solitária (80-90%) e uma pequena parcela de vida social.

Dentro do grupo das solitárias, ou seja, aquelas abelhas que vivem sozinhas: elas constroem o ninho, geralmente uma célula; aprovisionam, botam um ovo por célula e depois morrem ou começam a construir outra célula, e não têm contato com a prole. Nesse grupo estão as abelhas que são mais conhecidas e utilizadas pelo homem em áreas agrícolas no Brasil: as abelhas carpinteiras, (Xylocopa sp) da familia Anthophoridae. Existem cerca de 50 espécies dessas abelhas no Brasil segundo Camillo 1996. Elas vivem sempre em troncos de árvores mortas e cavam o seu próprio ninho com as mandíbulas. O seu grande papel, é o de ser o único polinizador eficiente do maracujá (Passiflora spp), uma flor grande que precisa de abelhas grandes para a sua polinização; no Brasil existem mais de 150 espécies nativas de maracujá segundo Freitas & Oliveira 2000. A introdução de 25 ninhos destas abelhas por hectare aumentou cerca de 700% a frutificação do maracujá na região de São Paulo (Camillo 1996). Existem dezenas de espécies de plantas visitadas pelas abelhas carpinteiras e que podem ser polinizadas por elas, além de outras espécies de plantas ruderais e ou invasoras que devem ser preservadas e cultivadas próximas de áreas agrícolas, onde a presença destas abelhas é necessária. O gargalo para a criação desta espécie foi, até pouco tempo atrás, o da construção de ninhos adequados. Os autores acima citados desenvolveram ninhos racionais com quadros móveis, onde é possível a criação destas abelhas, além da sua observação. Estas informações estão publicadas no livro intitulado “Criação Racional de Mamangavas” de Freitas & Oliveira 2001.

Há outras espécies de abelhas solitárias que são utilizadas em agricultura fora do Brasil. Por exemplo, as abelhas cortadeiras, (Megachile spp) da família Megachilidae. Estas abelhas, com escopa na parte ventral do abdômen, ocorrem também no Brasil. O nome cortadeira está associado às folhas de onde elas cortam pequenos pedaços para a construção dos seus ninhos.

Uma espécie destas abelhas, Megachilidae rotundata, nativas do Mediterrâneo e do Oriente Médio, foi introduzida acidentalmente nos EUA na década de 50; em 20 anos estava em outros países devido à sua eficaz capacidade de reprodução. Nesse período, foi descoberto nos Estados Unidos que elas eram eficientes polinizadoras das flores de alfafa e ervas medicinais. Quando foram oferecidos e aceitos colmos de bambus e de outras taquaras e blocos de madeira com longos orifícios artificiais como ninhos-armadilha, a possibilidade de polinização em grande escala foi assegurada. As abelhas criadas em grandes quantidades eram transportadas nos caminhões com milhares de ninhos para diferentes campos de cultivo.

A aplicação destas abelhas cortadeiras em campos de ervas medicinais fez com que o número de sementes aumentasse de 434 para 1121-1695 dependendo da distância da central de polinizadores, que eram as caixas furadas com os 10.000 ninhos destas abelhas solitárias (Pinzauti, 2000).

Outras abelhas solitárias como Osmia cornuta e O. rufa, da mesma família Anthophoridae, são utilizadas na Itália para polinização de frutíferas, não só no campo como também em estufas. Dependendo do período de floração, as duas espécies são usadas na mesma monocultura porque elas têm períodos definidos de sair do casulo, precoce ou tardiamente. Em estufas de apricot de 300m de comprimento foi suficiente a colocação de uma colônia forte de Apis ou 100 ninhos de Osmia para uma polinização eficiente (Pinzauti 2000).

A relativa facilidade com que se pode induzir essas abelhas a nidificarem em locais artificiais pré-determinados e a construção de ninhos agregados está na base da gestão e multiplicação destes insetos para atividades de polinização controlada, principalmente de frutíferas como amoras, framboesas e tomates. Esse fato já ocorre na Fazenda Agrícola Pacini, na região de Piza, Itália.

As abelhas Bombus terrestris da família Apidae, ou as verdadeiras mamangavas, como são conhecidas popularmente, são utilizadas em culturas de estufas, principalmente de tomates; essa tecnologia começou na Holanda há cerca de duas décadas. Diferente das abelhas anteriores, que eram solitárias, as mamangavas Bombus são sociais, mas as rainhas fundam o ninho solitariamente e realizam todas as tarefas até eclodirem as primeiras operárias, quando a rainha fica responsável somente pela postura dos ovos.

Naquele país de terras baixas e de inverno rigoroso, a quantidade de plantas cultivadas em estufas é enorme e o tomate era polinizado através de vibração artificial que demandava altos preços pelo pagamento da mão de obra humana; este trabalho foi substituído pelos serviços “grátis” das abelhas. Além desse fator praticidade, os frutos polinizados pelas abelhas alcançavam melhores preços nos mercados por serem maiores e mais perfeitos. Outra vantagem é que as pragas das abelhas podiam ser mais controladas do que na natureza, e o uso de insetos na polinização não permitia a utilização de agrotóxicos, o que tornou esse tomate um produto ideal não só do ponto de vista comercial como da saúde, por ser considerado orgânico.

A repercussão dos resultados econômicos da utilização destas abelhas Bombus terrestris causou um frenesi mundial nos países que cultivam tomates. Alguns paises que não tinham essa abelha conseguiram importá-las, como o Japão e alguns países latino-americanos como Chile e Uruguai. No Japão, além da importação, existe o incentivo de pesquisas com abelhas locais. Austrália e Turquia, por exemplo, vetaram totalmente a introdução destas abelhas exóticas (Velthuis, in press). Na região oeste do Canadá, as colônias importadas de Bombus terrestris, tinham a porta tão pequena que somente as operárias saíam do ninho e as rainhas jovens não. Tudo para não introduzir novas espécies no país. Canadá e Estados Unidos também utilizam Bombus nativos para polinização de tomates.

Dentro do grupo das abelhas sociais, as mais famosas e conhecidas são as Apis mellifera, ou abelhas de mel ou abelhas Europa Estas abelhas não são nativas nas Américas, e chegaram ao Brasil com os colonizadores europeus. No século XX, em 1956, estas abelhas foram naturalmente miscigenadas com uma raça africana, mais agressiva, resistente e produtiva. Os méis, a própolis, e a cera encontrados no nosso comercio são produtos destas abelhas, conhecidas como abelhas africanizadas.

Mel é uma substância produzida pelas abelhas e outros insetos sociais a partir do néctar das flores e de outras secreções das plantas, que elas coletam e transformam através da evaporação da água e da adição de enzimas. O mel tem efeitos positivos sobre a nutrição, favorecendo a assimilação do cálcio, a digestão alimentar e a retenção do magnésio além de aumentar o apetite. Méis fortemente aromáticos são usados como calmantes. O mel é também utilizado em infecções bucais e intestinais e favorece a diurese. Recentemente, foi descoberto que ele possui propriedades antioxidantes, que retardam a deteriorização dos alimentos. O mel de Apis é composto por aproximadamente 80% de açúcares (glicose, frutose e sacarose) e o restante de água além de outras substâncias como enzimas, aminoácidos, minerais, etc estas em diminutas quantidades.

Sabe-se que o mel já era usado, em épocas remotas, em cerimônias religiosas na forma de bebidas fermentadas e como adoçante, mas foi substituído após o aparecimento do açúcar. Até hoje, entra na composição de doces e salgados.

A própolis é a resina que as abelhas coletam nas fendas e brotos de árvores adicionadas de secreções salivares e cera, e que elas usam na colméia para vedação e proteção contra enfermidades e ataques de organismos estranhos. Possuem propriedades efetivas contra bactérias, fungos e tem sido usada também como anestésico.

A geléia real é uma secreção das glândulas hipofaringeanas das abelhas jovens utilizada para nutrir as abelhas jovens e a rainha durante toda sua vida. A esse fato são atribuídas a maior longevidade, maior tamanho e a maior fertilidade da rainha, quando comparados com os das operárias. Atualmente, a geléia real é importada da China.

A cera é produzida por glândulas na parte ventral do abdômen das abelhas Apis, e é usada na natureza, para construir toda a estrutura da colméia. À medida que a cera vai sendo reutilizada, ela adquire uma coloração mais escura. O homem utiliza a cera em cosméticos, medicamentos, moldes para odontologia e jóias, impermeabilizantes e até pinturas tipo batik (Zovaro, 2000).

A apitoxina é o composto ativo do veneno das abelhas, liberado quando o inseto ferroa pessoas ou animais. O ferrão é seu instrumento de defesa contra agressões ao ninho e às abelhas. O veneno é liberado juntamente com um feromônio de alarme que alerta outras abelhas da mesma espécie, sobre a presença de intrusos. Na produção comercial, o veneno é coletado quando as abelhas são obrigadas a passar sobre uma placa de vidro conectada a baterias elétricas. A corrente estimula a abelha a protrair o ferrão e liberar o veneno, que secando rapidamente, é raspado com gilete. O veneno é usado em preparações farmacêuticas nos tratamentos de artrite e artrose e na dessensibilização de pacientes alérgicos a picadas de abelhas. Atualmente, a cortisona e a adrenalina são compostos químicos produzidos em laboratórios, têm substituído esse produto das abelhas (Pellini 1994).

Com a dispersão destas abelhas africanizadas, ocorreu um movimento de adaptação da sua criação e hoje, ela é responsável pela produção de 45.000t de mel por ano no Brasil, taxa considerada irrisória pela nossa grande extensão territorial e clima favorável ao longo de todo ano exceto nos estados do sul (Sommer, 1996).

A revolução na criação e principalmente na produção de mel destas abelhas foi descrita em 1853, por Langstroth, no seu livro “O ninho e as abelhas de mel”, com a inovação dos quadros móveis, local apropriado onde as abelhas construíam os favos de maneira ordenada, e o tamanho padronizado, favorecia a extração do mel através da centrífuga. Desde então, a apicultura vem crescendo e atualmente a produção mundial é próxima de 800.000t, sendo a grande maioria do mel consumido no próprio país de origem. Grandes exportadores de méis são o México, China, Argentina e Austrália, fato que não está associado com a produção excedente ou bases nutricionais do povo, mas sim com políticas públicas. Os grandes importadores são a Alemanha, Reino Unido e Japão.

Os estados que mais produzem mel de flores no Brasil são Santa Catarina, Paraná e Piauí. O mais famoso mel extrafloral que se conhece, o de bracatinga, é coletado nos dois primeiros estados e as abelhas coletam de secreções de cochonilhas que sugam a seiva desta planta. Contudo, méis de flores de bracatinga também são produzidos pelas abelhas.

Uma colônia forte de Apis, com uma população aproximada de 40.000-60.000 indivíduos, pode produzir uma média de 25 kg de mel/ano, 300-500g de própolis, 500g de cera, 300g de geléia real e 250mg de apitoxina. Na apicultura migratória, a quantidade de mel pode chegar a 100-200kg de mel, com aproximadamente 25kg/florada. Entretanto, existe o desgaste humano e fatos imprevistos como excesso ou falta de chuva, furtos, acidentes durante o transporte noturno, etc (Souza 1996).



Os resultados de produção e faturamento em 1999 de alguns questionários que foram respondidos segundo Sampaio (2000) estão transcritos na tabela abaixo:



Resultado apícola Produção/ano Faturamento/ano Valor/produto/bruto Venda final ($R) manufatur.

*dado posterior

Polinização 900 mil ? ?

Mel 25.000 t 62,5 milhões 2.5/kg 10-15/kg

Própolis 49 t 3.9 milhões 80./kg

Pólen ? ? 17./kg 40-50/kg

Geléia real ? ? 140./kg 2000/kg

Apitoxina 8.000g 320 mil 40./g -

Cera 1.900 t 17,1 milhões 9./kg 13-15/kg







Índice de Vendas por segmentos, ou onde o produtor envia seus produtos (em %)



Comercialização Industria Farmácias e pontos de produtos naturais Cadeia alimentar Exportação consumidor

Apitoxina 100

Mel 35 20 20 25

Própolis 15 10 75

Pólen 50 40 10

Geléia real 60 40

Cera 90 10

observação Inclusive cosmética



Entretanto, o maior serviço que as abelhas Apis prestam ao Homem, é a polinização das plantas, tanto nativas como introduzidas, que é a maioria das monoculturas. Porque essa atividade é tão natural e têm ocorrido desde o aparecimento das abelhas, ela não tem recebido a devida atenção. Só recentemente é que tem sido avaliado quanto são perdidos nas safras de flores e frutos principalmente grãos, quando não há abelhas suficientes ou quando elas estão ausentes na região. A diminuição destes polinizadores e seus serviços foram orçados em 4.1 bilhões de dólares por ano nos cultivos de vinha e maçã dos arredores de Nova York. Nos EUA, onde há 2 milhões de colméias, metade é usada em polinização e a estimativa para o valor de todas as espécies de abelhas na polinização é superior a de dez bilhões de dólares (De Jong 2000).

O reconhecimento destas populações de insetos na agricultura está valorizando seus criadores que até alugam os seus serviços como já ocorre ha algum tempo nas plantações de maçã de Santa Catarina e de algumas culturas em estufas. Segundo Wiese 1994 colméias colocadas em culturas de maçã, durante o período de floração que dura aproximadamente 30 dias, rendem próximo de 20 dólares/unidade. Na região de Holambra-SP, colônias colocadas em estufas de Cucumis sativus (pepino) promovem aumento na produção da ordem de 150% e diminuem o número de frutos abortados (Kors 1994).

A presença da abelha aumentou a frutificação em 38.8% em culturas de Coffea arábica (café var. novo mundo); em 42.7% na leguminosa Dolichos lab lab; em 87% em Brassica napus (colza); em 40% no Capsicum sp (pimentão), e em 15% em Citrus sinensis (laranja pera do rio) dados todos fornecidos por Nogueira-Couto (1994). Entretanto, atrativo tipo químico ou xarope podem ser utilizados para aumentar a atratividade das flores para as abelhas. Em laranja pêra do rio, com esse método, o aumento foi na média de 57%, na mesma região de Jaboticabal relatada anteriormente (Souza 1996).

No Brasil já existem pólos de irradiação do conhecimento sobre apicultura, não só através de associações, mas também através de universidades e entidades governamentais como o SEBRAE que publicou em 1997, na série Como Abrir seu Próprio Negócio nº4, o tema Entreposto de Mel.

Atualmente, cientistas e lobistas de criadores de abelhas defendem que o conhecimento do sequenciamento do genoma das abelhas Apis será importante para o homem porque aceleraria a criação de abelhas superiores, resistentes a parasitas e doenças. (Gazeta Mercantil, 2002). Deve-se lembrar que a inseminação artificial de abelhas já é fato corriqueiro nesta espécie de abelha.

Ainda dentro do grupo das abelhas sociais, existem os meliponíneos, as nossas abelhas nativas sem ferrão como a tiúba, uruçu, jati, uruçui, jataí, mandaçaia, etc que são quase desconhecidas. O seu valor atual está associado apenas ao mel, que é consumido pelas populações locais onde estas abelhas ocorrem. No Brasil existem aproximadamente 300 espécies destas abelhas, todas sociais formando colônias de centenas a milhares de indivíduos. Essas abelhas são visitantes comuns das plantas com flores e são consideradas importantes polinizadores das plantas nativas, 90% segundo Kerr et al 1994, e de monoculturas de áreas tropical e subtropical. Heard (1999) descreve que em aproximadamente 90 espécies de plantas cultivadas, os meliponíneos são considerados essenciais ou de grande contribuição para a polinização. O urucum ou colorau, camu-camu, coco, carambola, macadamia, manga, morango, etc além de outras citadas na literatura.

As vantagens do uso destas abelhas nativas sem ferrão em culturas são: 1. colônias perenes; 2. manejo não perigoso podendo ser adotado por mulheres e jovens; 3. fidelidade floral; 4. pequeno investimento de material; 5. abelhas poliléticas, ou seja, que visitam muitas flores; 6. armazenam alimento podendo sobreviver a épocas de escassez de néctar ou pólen.; 7. por serem abelhas nativas, já estão em equilíbrio com parasitas e doenças; 8. podem ser utilizadas em estufas e 9. as colônias são transportadas facilmente. As desvantagens são 1. crescimento lento das colônias; 2.falta de conhecimento do manejo adequado para a maioria das espécies, como tipos de caixas e épocas de divisão dos ninhos; 3. falta de avaliação do seu valor como polinizador de culturas; 4. algumas espécies danificam as flores ou botões florais furando-as para coleta do néctar ou pólen.

O uso de meliponíneos em estufas é estudo recente. Foi primeiramente testado no Japão, em culturas de morango, provando na ocasião, ser tão eficiente quanto Apis. Atualmente, estão sendo também avaliados em Atibaia-SP em diferentes cultivares e com bons resultados mesmo que as abelhas sejam outros meliponíneos (Malagodi-Braga et al 2000). Como a utilização em estufas é mais onerosa, os plantadores de morango estão sendo incentivados a preservar áreas naturais nas redondezas das culturas para indiretamente, preservarem o local dos ninhos das abelhas nativas como jataí e irai, visitantes das flores dessa cultura. Na Austrália, onde já existe maior conhecimento do valor destas abelhas sem ferrão, existem campanhas de preservação e incentivo de criação.

Depois do reconhecimento de que os polinizadores têm significância ecológica e econômica, devemos ressaltar também as atuais ameaças a estes insetos tais como 1. redução do ambiente natural. Algumas espécies não sobrevivem em pequenos fragmentos de vegetação e ou não conseguem atravessar grandes áreas de culturas para encontrar alimento ou locais adequados de nidificação. 2. uso de pesticidas. A aplicação de misturas destes compostos química elimina não só as pestes das lavouras, mas também as populações de polinizadores nativos. 3. Novos parasitas como a varroa, ácaro que parasita a abelha Apis mesmo antes dela nascer. As abelhas Apis mellifera africanizada tem baixo grau de infestação. 4. Atividades de meleiros ou predadores, que imediatistas, apenas extraem os produtos, e muitas vezes de maneira inadequada para a própria saúde.



Situação Atual

O tema polinização é bastante antigo, entretanto, a conservação dos polinizadores só foi popularizada mais recentemente, através de dois eventos iniciados em 1996; uma campanha nos Estados Unidos sobre os polinizadores esquecidos, que eram todos os outros polinizadores e não só os que tinham manejo conhecido, idéias que foram registradas em livro por Buchmann & Habhan de 1997. A outra campanha foi a de inclusão dos polinizadores no grupo de prioridades na Convenção da Biodiversidade (CBD) que resultou na Iniciativa Internacional dos Polinizadores: IPI.

O desenvolvimento dos ideais do IPI começou em 1996 quando a 3a Conferência das Partes (COP3) para a Convenção da Biodiversidade (CBD) aceitou a proposta brasileira de colocar os polinizadores no grupo das prioridades dessa convenção. Em 1998 o Brasil organizou um workshop que resultou num apelo internacional denominado Declaração de São Paulo.

O IPI foi aprovado no COP6 como uma atividade do programa da CBD para o Uso Sustentável e Conservação da Agrodiversidade. Depois disso, a CBD convidou a FAO (Organização da ONU que trata de temas sobre Alimentos e Agricultura) para desenvolver um plano de ação.

Em 2002 a FAO submeteu uma proposta para o GEF (Global Environmental Facilities) para financiar projeto mundial sobre polinizadores. Fala-se que durante cinco anos, poderão ser disponibilizados 9 milhões de dólares para o projeto dos polinizadores.......O GEF é um mecanismo financeiro criado em 1991, resultante de uma aliança entre as Nações Unidas e as Instituições Breton Woods, que tem atuado em ações para reduzir os riscos de mudanças climáticas, na conservação e uso da biodiversidade sustentável, na proteção internacional das águas e na divulgação de substâncias que causam diminuição na camada de ozônio.





Literatura utilizada e recomendada



Aguilar, IM 1999 El Potencial de las Abejas Nativas Sin Aguijón (Apidae: Meliponinae) en los Sistemas Agroforestales. www.fao.org/ag/aga/agap/frg/afris/espanol/document/agrof99.

Amano, K 2001 Applied Researches into the Ulitization of stingless honeybees as pollinators of crops in Japan. II Seminário Mexicano sobre Abejas sin Aguilón. Yucatan, Mexico.

Breyer, HFE 2000 Técnicas de produção de própolis. XIII Congresso Brasileiro de Apicultura. Florianópolis, SC

Buchmann, SL & Nabhan, GP 1997 The Forgotten Pollinators. Island Press. 292p

Camargo, JM (org.) 1972 Manual de Apicultura. Ed. Agronômica Ceres. 154p.

Camillo, E 1996 Polinização do Maracujá Amarelo. XI Congresso Brasileiro de Apicultura: 317-321. Teresina, PI.

Cortopassi-Laurino, M 1998 Méis & Abelhas. Perguntas e Respostas. Universidade de São Paulo 35p.

Crane, E 1983. O livro do Mel. Ed. Nobel 226p

De Jong, D. 2000 O valor da abelha na produção mundial de alimento. XIII Congresso Brasileiro de Apicultura. Florianópolis, SC

Freitas, BM. & Oliveira, JH. 2001 Criação Racional de Mamangavas para polinização em áreas agrícolas. Ed. Banco do Nordeste, Fortaleza 96p.

Gazeta Mercantil 2002 O poderoso lobby dos apicultores. Ciência & Saúde. 6e7 de abril.

Guzman, MD 1991 Efecto de lãs Visitas de Abejas em la Produccion de frutos de Rambutan (Nephelium lappaceum L.) II Seminário Mexicano sobre Abejas Sin Aguilón:125-130. Yucatan, México.

Heard, TA 1999 The role of stingless bess in crop pollination. Annu. Rev. Entomol. 44:183-206

Kerr, WE; Nascimento, VA & Carvalho, GA 1994 Há salvação para os meliponíneos? I Encontro sobre Abelhas:60. Riberão Preto, SP

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Kevan, PG & Philips, TP 2001 The Economics of Pollinator Declines: Assessing the Consequences. http://www.consecol.org/Journal/vol5

Kors, JAM 1994 Aluguel de colônias de Apis mellifera para polinização dirigida na região de Holambra, SP X Congresso Brasileiro de Apicultura: 31-32. Pousada do Rio Quente, GO.

Malagobi-Braga, KS; Kleinert, AMP & Imperatriz-Fonseca, VL 2000 Stingless Bees: Greenhouse Pollination and Meliponiculture: 145-150. IV Encontro sobre Abelhas. Ribeirão Preto, SP

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www.ib.usp.br/jandaira

www.eco.ib.usp.br/beelab

www.worldbank.org

www.uoguelph.ca/~truman



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