quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

PROGRAMA PADRÃO DE QUALIDADE DO MEL DE ABELHA

Paulo Airton Macedo e Silva

Federação Cearense de Apicultura - FECAPI



INTRODUÇÃO

Com a expansão da apicultura no nordeste o mercado interno do mel tornou-se bastante competitivo, aumentando de modo significativo a oferta do produto, com os preços tendendo a oscilar para baixo. A necessidade da ampliação de mercado passou a ser o grande desafio do setor apícola, que partiu em busca de clientes no continente europeu.

O mel silvestre produzido no Ceará está dentro do padrão de cor e sabor para exportação. No entanto, apesar deste produto se apresentar orgânico no interior da colméia, ou seja, livre de qualquer tipo de contaminação, a partir do início da colheita e durante a prática do beneficiamento e armazenamento, o mel passa a perder qualidade comprometendo a sua comercialização para o mercado externo.

O mercado internacional é bastante exigente com relação à qualidade dos produtos alimentícios, criando um rígido controle para a aquisição do mel de abelha. Portanto, a adequação do apicultor cearense a esta nova realidade é imprescindível e urgente, para que possamos manter sempre operante esse canal de comercialização, através da oferta de um produto de alta qualidade, e assim conquistando melhores preços.



OBJETIVO DO CURSO

No momento em que o estado do Ceará passa a ocupar o segundo lugar como exportador de mel para a Europa, no ano de 2001, superando São Paulo, Minas Gerais e Piauí; torna-se necessária a adoção de medidas que nos garanta a produção de um mel de boa qualidade, promovendo um alto grau de satisfação na clientela. Para isso, em parceria com o Sebrae e o Banco do Nordeste, implantamos um modelo pioneiro de Padrão de Qualidade do Mel em 11 Associações Comunitárias do município de Mombaça, através de um curso com 24 horas de duração, contemplando um segmento teórico relacionado com o conteúdo da apostila, e uma parte prática voltada para a colheita, beneficiamento e armazenamento do mel, segundo as recomendações estabelecidas.



Umidade do mel - o ar tende a ficar carregado de água durante a estação chuvosa, transferindo umidade para o mel produzido neste período do ano. Mesmo assim, muitos apicultores insistem em colher os favos com grandes áreas desoperculadas, o que favorece ainda mais a elevação do teor de umidade do produto. Outro procedimento que deve ser evitado é o acúmulo de água na máquina centrífuga e nos recipientes, proveniente do processo de lavagem, além do hábito de lavar as mãos e o garfo desoperculador constantemente, durante o processo de desoperculação, de uma vez que estas práticas contribuem, tão somente para o aumento dos índices de umidade do mel.

A umidade ideal do mel é em torno de 17%-18%, o que impede o desenvolvimento de leveduras, possibilitando o seu armazenamento, sem o perigo da fermentação. Acima de 21% de umidade, o mel fica sujeito à fermentação em curto espaço de tempo, tornando-o impróprio para o consumo.

Para evitar a depreciação do mel, devido à elevação da umidade o apicultor deve adotar os seguintes procedimentos:



1. Usar o refratômetro portátil para medir a umidade do mel a ser colhido

2. Beneficiar o mel sempre em dias secos, com baixa umidade do ar

3. Retirar todo o excesso de umidade dos equipamentos e dos baldes

4. Evitar a lavagem constante das mãos durante o manuseio do mel

5. Usar desumidificador industrial em local próprio, se for o caso

6. Colher somente os favos totalmente operculados, principalmente na estação chuvosa

7. Evitar armazenar o mel em ambientes úmidos


Higiene do mel - por se tratar de um alimento altamente nutritivo, o mel torna-se um ótimo meio de proliferação de microrganismos, que podem causar danos à saúde do consumidor. Como o mel é considerado um alimento saudável e natural, pode transformar-se em um produto indesejável, pela sua ação nociva ao homem, após ser contaminado.

Quando o mel apresenta altos índices de contaminação microbiana, de acordo com a legislação do Ministério da Agricultura, a sua comercialização é inviabilizada, por tornar-se imprestável para o consumo humano, acarretando em prejuízos para o produtor.

A perda de qualidade do mel, por contaminação microbiológica, é devido principalmente aos seguintes fatores:



1. Manipulação do mel em recipientes sujos ou mal lavados

2. Local de beneficiamento impróprio e sujeito à contaminação

3. Utilização de água de má qualidade

4. Falta de cuidados com a higiene pessoal

5. Caixas de transporte conduzidas de forma inadequada



Esse problema é de fácil solução, mas exige que o apicultor conheça os conceitos básicos de higiene pessoal e que esteja consciente da importância da sua prática.



Contaminação com metais pesados - a legislação do Ministério da Agricultura é bastante rigorosa com relação à presença de metais pesados no mel, aceitando apenas uma parte por milhão. Os apicultores devem estar atentos à gravidade desse problema, que provoca o acúmulo de substâncias nocivas no organismo humano, acarretando sérias complicações futuras para a saúde.

Esse problema é decorrente de diversos fatores:



1. Manuseio com equipamentos oxidados

2. Utilização de pintura interna nos equipamentos da casa do mel

3. Reutilização de embalagens destinadas a outros produtos

4. Combustão de material tóxico no fumegador



Para evitar esse tipo de contaminação do mel, o apicultor deverá usar somente material de aço inox de boa qualidade, como também embalagens plásticas próprias para alimento.





HMF (Hidroximetilfurfural) - diante de temperaturas superiores a 37ºC, o mel passa a sofrer transformações químicas que resulta no surgimento de uma substância denominada HMF, que indica a degradação do mel. O teor de Hidroximetilfurfural aumenta no mel à medida que a temperatura se eleva, implicando na redução de qualidade do produto.

O índice máximo aceitável é de 40u eq./kg de mel. Devemos estar atentos para a possibilidade do mel produzido nas nossas condições, apresentar já na colheita o HMF em torno de 30 u eq./Kg de mel.

As principais causas de elevação do HMF no mel são:



1. Tempo de armazenamento do mel

2. Aquecimento do mel

3. Armazenamento inadequado da produção



Algumas recomendações devem ser seguidas para minimizar esse problema, tais como: - Armazenar o mel beneficiado em câmaras frigoríficas, ou comercializa-lo até 60 dias após à colheita - Manter o estoque de mel em local fresco - Não expor o produto ao sol ou a temperaturas elevadas - Mantenha o seu apiário sombreado durante todo o ano.





O PASSO A PASSO PARA PRODUÇÃO DO MEL PERFEITO



O apicultor deve ser exigente com relação a origem e a qualidade dos produtos do seu apiário, estando sempre atento às normas que lhe conduz ao mel ideal, livre de impurezas e contaminação, e assim mantendo o seu cliente satisfeito, para ter sempre a garantia de um mercado permanente. As diretrizes básicas para produção de mel com qualidade superior são as seguintes:



Instalação do Apiário

 Não coloque suas colméias em áreas de canaviais, pois o mel não servirá para exportação.

 O seu apiário deve estar distante de áreas cultivadas pelo menos 1500 metros, para evitar contaminação com metais pesados.

 Residências, pocilgas, currais e vias públicas devem estar afastadas do apiário pelo menos 200 metros.

 Acesso fácil garante o transporte eficiente da produção.



Manejo para Desenvolvimento dos Enxames

 Mantenha seus enxames populosos durante todo o ano, substituindo as rainhas velhas por outras oriundas do próprio apiário, nunca importando.

 Não ofereça nenhum tipo de remédio aos seus enxames, principalmente antibióticos.

 Esteja sempre atento à necessidade de troca de favos velhos.

 Na ausência de água de boa qualidade, providencie um bebedouro artificial próximo ao apiário.

 As colméias devem ficar em área sombreada para evitar a elevação da temperatura em seu interior.

 Proteja as abelhas dos seus inimigos naturais, utilizando suportes com medidas adequadas e material resistente.

 Desenvolva um Programa de melhoramento do pasto apícola na sua propriedade, iniciando pela conservação das espécies já existentes.

 Inspecione o seu apiário semanalmente, planeje e execute as tarefas sem atraso, utilizando fichas individuais para as suas colméias.

 Não proteja suas melgueiras embaixo de lona plástica com utilização de produtos fumigantes. Confie às suas abelhas a guarda desse material.

 Adquira somente produtos dentro do padrão de qualidade.





Colheita de Mel



 Mantenha o seu vestuário em bom estado de conservação.

 Utilize fumaça branca e suave (imburana de cheiro, eucalipto, favos velhos) e na quantidade correta. Jamais direcione a fumaça para o favo ou para o interior da colméia.

 Colha somente os favos operculados, principalmente na época de chuvas.

 O transporte da produção do apiário até a Casa do Mel deve ser feito com proteção para evitar contaminação e perda de qualidade.

 Evite colher mel, quando a umidade relativa do ar estiver elevada.





Beneficiamento do Mel



 Mantenha a Casa do Mel sempre limpa, mesmo na época de entressafra. Não permita a criação de animais perto da instalação.

 Utilize água de boa qualidade para lavar os equipamentos, baldes e instalações antes de iniciar o trabalho. O auxilio de um desinfetante na operação de limpeza é de grande importância (água sanitária), não esquecendo de enxaguar bem, para retirar o excesso. Em seguida, enxugar todo o material.

 Nunca utilize a Casa do Mel para outros fins, nem armazene melgueiras ou ninhos.

 Arborize a área anexa, para diminuir a temperatura interna da Casa do Mel.

 Não instale ventilador de teto na sala de beneficiamento do mel.

 A mesa desoperculadora, centrífuga e decantadores devem ser de aço inox de boa qualidade (AISI 304).

 O mel oriundo da mesa desoperculadora deve ser envasado separadamente.

 Os favos contendo o mel claro devem ser beneficiados, separadamente.

 Deve permanecer no interior das instalações da Casa do Mel, somente o grupo de apicultores que está trabalhando. A presença de estranhos no momento do beneficiamento não é permitida, em nenhuma hipótese.

 Recomendamos a utilização de bata, gorro e luvas plásticas pelo grupo de apicultores que participa do trabalho de beneficiamento do mel.

 É proibido fumar, mascar, usar perfume ou estar com algum problema de saúde no interior da Casa do Mel.

 Não é permitido o uso de fumaça no interior das instalações.











Armazenamento do Mel



 Todos os equipamentos e utensílios usados no processo de beneficiamento do mel devem estar bem lavados e enxutos.

 Nunca armazene mel em decantadores que tenham resíduos fermentados nas frestas internas.

 Utilize somente recipientes apropriados para o envase do mel, ou seja, baldes Bomix com capacidade para 18 litros, com tampa removível.

 O mel deve permanecer no decantador pelo menos por 72 horas.

 Proteja os recipientes que contém mel, evitando a penetração de formigas ou impurezas que podem contaminar o produto.

 O local de armazenamento do mel deve ser fresco, ventilado, seco e limpo, além de ter sobre o piso um estrado de madeira.

 Nas condições de temperatura do Nordeste, o mel não deve ficar armazenado por longo período, com risco de perder qualidade, devido a elevação do índice de HMF.

 O mel cristalizado não deve ser aquecido, pode ser comercializado na forma sólida.



Comercialização do Mel



 Cada Associação de Apicultores assumirá o processo de colheita, beneficiamento e estocagem do mel de seus filiados, identificando através de um SELO DE ORIGEM as embalagens com produto de qualidade.

 Todas as Associações Comunitárias que exploram a Apicultura no município, participarão ativamente da articulação de transferência da produção das comunidades rurais para a cidade, facilitando a comercialização.

 O Padrão de Qualidade do Mel será adotado por todos os apicultores que desejam participar da venda conjunta, viabilizada pela Associação, para grandes empresários do ramo.

 Uma Comissão formada por três apicultores atuantes, eleitos pela comunidade, irão acompanhar a implantação e acompanhamento do novo modelo apícola, que busca ampliar o mercado com um produto de qualidade total.



O ASSOCIATIVISMO DENTRO DO CONTEXTO



Quando resolvemos enquadrar o Associativismo neste trabalho, é porque entendemos que a Apicultura só vai se estabelecer definitivamente nas Comunidades Rurais, quando os apicultores assumirem a responsabilidade de trabalhar conjuntamente, para construir um sistema cada vez mais integrado, originando um ambiente capaz de promover benefícios para todos. No momento em que o apicultor encontrar o ponto de interseção entre o seu próprio interesse e o interesse comunitário, o modelo apícola do Ceará estará implantado.

O apicultor deve se inserir na sua comunidade como sendo parte dela, tanto na origem como no íntimo, buscando sempre concretizar ações coletivas que contemplem os aspectos: social, econômico, ecológico e cultural.

As soluções para os problemas da Associação devem ser buscados no processo de educação e capacitação do seu quadro social, na reflexão e discussão sobre a sua verdadeira realidade, na visão clara de suas metas, na proposição de soluções e no comprometimento de todos com os seus objetivos e sua missão.

As parcerias são interessantes e indispensáveis no processo de organização das Associações, e devem envolver todas as instituições comprometidas com a apicultura no estado, a exemplo do que já faz o Sebrae e o Banco do Nordeste, favorecendo maiores investimentos na capacitação do apicultor, dotando-lhe de mais conhecimento, único fator de competitividade sustentável. Entendemos que o capital humano é mais importante que o financeiro.



SUGESTÃO



1. O segmento apícola do Ceará deve se organizar a nível de Associações, a partir da eleição de três membros do quadro social, e que sejam apicultores participativos, para assumirem a coordenação do processo produtivo, que é desencadeado em cada comunidade. Acreditamos que um grupo sem coordenação, trabalha sem sintonia com os interesses coletivos, e portanto não se mostrará eficiente no momento de caminhar junto em busca de superar dificuldades.

2. A criação do SELO DE ORIGEM que deve identificar o mel produzido de acordo com as recomendações técnicas, passa a ser utilizado por cada Associação, garantindo o enquadramento de todos os apicultores nas novas diretrizes, além de fortalecer os membros da Comissão, que trabalharão no acompanhamento da produção, colheita, beneficiamento e armazenamento da produção de todos os associados, cabendo-lhes ainda, participar do processo de comercialização, junto às outras Associações Comunitárias do município.

3. As Associações Comunitárias devem manter um cadastro de todos os apicultores filiados, com o objetivo de conhecerem as seguintes informações: número de lotes recebidos, data da colheita, data da entrada da produção, quantidade de baldes por apicultor, nome dos sócios que estão desenvolvendo a apicultura, local da produção, florada predominante.

4. A necessidade de combater os vícios adquiridos por alguns apicultores, que põem em risco a qualidade do produto da Comunidade, deve ser um desafio assumido por todos os produtores comprometidos com a atividade apícola, por acreditar nos seus resultados. Por tanto, chamamos a atenção dos verdadeiros apicultores para que adotem as recomendações técnicas e preservem a qualidade de sua produção, e somente certifiquem o mel que realmente estiver dentro do Padrão de qualidade, pois o problema maior não está no foto de não conseguir colocar no mercado o mel de qualidade inferior, e sim em vendê-lo.



























FICHA DE CADASTRO DO APICULTOR

Dados Pessoais



Nome:________________________________________ Pessoa: Física Jurídica

CPF / CNPJ:____________________________ Tipo:_____________________________

RG / Insc Est:___________________________ Ocupação:____________________



Residência

Endereço:______________________________________ Bairro:_____________________

CEP:________________________________ Cidade:_______________ Estado:________

Telefone:_____________________________ Nome de Contato:______________________

Banco para pagamentos:_________________ Agência:__________ Conta:____________



Informações Profissionais

Quantidade de Colméias:__________ Trabalha c/ apicultura migratória? Sim Não

Observações:_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________



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